sexta-feira, 20 de maio de 2011

hei-de ser feliz


Deito fora as imagens,
Sem ti para que me servem
as imagens?

Preciso habituar-me
a substituir-te
pelo vento,
que está em toda a parte
e cuja direcção
é igualmente passageira
e verídica.

Preciso habituar-me ao eco dos teus passos
numa casa deserta,
ao trémulo vigor de todos os teus gestos
invisíveis,
à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve
a não ser eu.

Serei feliz sem as imagens.
As imagens não dão
felicidade a ninguém.

Era mais difícil perder-te,
e, no entanto, perdi-te.

Era mais difícil inventar-te,
e eu te inventei.

Posso passar sem as imagens
assim como posso
passar sem ti.

E hei-de ser feliz ainda que
isso não seja ser feliz.

   (Raul de Carvalho)
 

devagar



Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
deixa em paz os passarinhos
deixa em paz a mim!
Se tu me queres, enfim, tem de ser
bem devagarinho, Amada, que a
vida é breve, e o amor mais breve
ainda.

(Mário Quintana)

falar ...ou não falar

"se eu te pudesse dizer o que nunca te direi, tu terias de entender aquilo que nem eu sei"

Fernando Pessoa

desilusão



Vamos pela vida intercalando épocas de entusiasmo com épocas de desilusão. De vez em quando andamos inchados como velas e caminhamos velozes pelo mar do mundo; noutras ocasiões – mais frequentes do que as outras – estamos murchos como folhas que o tempo engelhou. Temos períodos dourados, em que caminhamos sobre nuvens e tudo nos parece maravilhoso, e outros – tão cinzentos! – em que talvez nos apetecesse adormecer e ficar assim durante o tempo necessário para que tudo voltasse a ser belo.
Acontece-nos a todos e constitui, sem dúvida, um sinal de imaturidade. Somos ainda crianças em muitos aspectos.
A verdade é que não temos razões para nos deixarmos levar demasiado por entusiasmos, pois já devíamos ter aprendido que não podem ser duradouros.
A vida é que é, e não pode ser mais do que isso.
Desejamos muito uma coisa, pensamos que se a alcançarmos obtemos uma espécie de céu, batemo-nos por ela com todas as forças. Mas quando, finalmente, obtemos o que tanto desejávamos, passamos por duas fases desconcertantes. A primeira é um medo terrível de perder o que conquistámos: porque conhecemos o que aconteceu anteriormente a outras pessoas em situações semelhantes à nossa; porque existe a morte, a doença, o roubo…
A segunda fase chega com o tempo e não costuma demorar muito: sucede que aquilo que obtivemos perde – lentamente ou de um dia para o outro – o encanto. Gastou-se o dourado, esboroou-se o algodão das nuvens. Aquilo já não nos proporciona um paraíso.
E é nesse momento que chega a desilusão, com todo o seu cortejo de possíveis consequências desagradáveis: podem passar-nos pela cabeça coisas como mudarmos de profissão, mudarmos de clube, trocarmos de automóvel ou de casa, divorciarmo-nos… E, então, surge o desejo de partir atrás de outro entusiasmo: queremos voltar a amar…
Nunca mais conseguimos aprender o que é o amor.
Se nos desiludimos, a culpa não está nas coisas nem está nas outras pessoas. Se nos desiludimos, a culpa é nossa: porque nos deixámos iludir; porque nos deixámos levar por uma ilusão. Uma ilusão – há quem ganhe a vida a fazer ilusionismo – consiste em vestir com uma roupagem excessiva e falsa a realidade, de modo a distorcê-la ou a fazê-la parecer mais do que aquilo que é.
Quando nos desiludimos não estamos a ser justos nem com as pessoas nem com as coisas.
Nenhuma pessoa, nenhuma das coisas com que lidamos pode satisfazer plenamente o nosso desejo de bem, de felicidade, de beleza. Em primeiro lugar porque não são perfeitas (só a ilusão pode, temporariamente, fazer-nos ver nelas a perfeição). Depois, porque não são incorruptíveis nem eternas: apodrecem, gastam-se, engelham-se, engordam, quebram-se, ganham rugas… terminam.
Aquilo que procuramos – faz parte da nossa estrutura, não o podemos evitar – é perfeito e não tem fim. E não nos contentamos com menos de que isso. É por essa razão que nos desiludimos e que de novo nos iludimos: andamos à procura…
De resto, se todos ambicionamos um bem perfeito e eterno, ele deve existir. Só pode acontecer que exista. Mas deve ser preciso procurar num lugar mais adequado.

Paulo Geraldo 

quinta-feira, 19 de maio de 2011

momentos

 
Foi um momento
O em que pousaste
Sobre o meu braço,
Num movimento
Mais de cansaço
Que pensamento,
A tua mão
E a retiraste.
Senti ou não ?

Não sei. Mas lembro
E sinto ainda
Qualquer memória
Fixa e corpórea
Onde pousaste
A mão que teve
Qualquer sentido
Incompreendido.
Mas tão de leve!...

Tudo isto é nada,
Mas numa estrada
Como é a vida
Há muita coisa incompreendida...

Sei eu se quando
A tua mão
Senti pousando
Sobre o meu braço,
E um pouco, um pouco,
No coração,
Não houve um ritmo
Novo no espaço?
Como se tu,
Sem o querer,
Em mim tocasses
Para dizer
Qualquer mistério,
Súbito e etéreo,
Que nem soubesses
Que tinha ser.

Assim a brisa
Nos ramos diz
Sem o saber
Uma imprecisa
Coisa feliz.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"


segunda-feira, 16 de maio de 2011

parto ...

em viagem sem destino 
na procura do meu ser 
busco incessantemente o sonho
daquilo que sou
e do que me faz feliz.

Maria


lágrimas


Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das Primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

                                                                  (Florbela Espanca) 

refúgio

cantando

preciso de o fazer
mesmo que seja uma fachada
é-me fundamental
só assim poderei viver minha vida.

Maria

quarta-feira, 11 de maio de 2011

paragens ...

lugares de passagem

escondidos algures

locais mágicos.

Maria




mudanças

alguns sinais foram aparecendo desde algum tempo atrás.

procurei não dar-lhe importância continuando no agitanço da vida pensando que o cansaço era a causa.

porém, e à medida que os dias se arrastavam, uma voz interior me dizia que assim não era.

tempo de parar. tempo de pensar, tempo de sonhar, tempo de libertar, tempo de mudar.

a decisão foi dificil de tomar.

prendo-me a hábitos que me sustentam à muito tempo.

preciso cortá-los.

como fazer, pergunto-me.

traço o objectivo. defino as metas. estabeleço as acções. serão estas as minhas resoluções. a metodologia implica mudanças. mudemos. eu gosto. agarro-me a esse gosto...

Maria 

segunda-feira, 9 de maio de 2011

construindo ...

meu primeiro pensamento me leva ao meu PAI e à minha MÃE

os dois seres que possibilitaram a minha existência

reparo que apenas são necessárias três simples letras para construir aquelas palavras bonitas

com mais ou menos palavras construo frases

com muitas frases ergo o mundo

o mundo da minha vida.

Maria

O principio ...

tudo tem um principio, meio e fim. E este, é o principio ...
do quê? ... não sei
para quê?  ... também não
qual a razão? ... muito menos
por quanto tempo? ... complicado 
para quem? ... mais dificil ainda

parto à descoberta ...  

Maria