quinta-feira, 29 de setembro de 2011

chamo-te ...

chamo-te …
chamas-me …
não me ouves?
também eu não te ouço.

não estamos surdos
e a distância não é grande
mas não queremos ouvir.

escondemo-nos  
nos gritos mudos
do silêncio negro e inquietante
que nos trama
e que por orgulho
não o quebramos.

Maria 


Chamo-te

Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.

Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só de Teus olhares me purifique e acabe.

Há muitas coisas que não quero ver.

Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o Teu reino antes do tempo venha
E se derrame sobre a Terra
Em Primavera feroz precipitado.

(Sophia de Mello Breyner Andresen) 

Completo o post com a música "Pele" dos Polo Norte por sugestão de uma amiga num outro sítio, num outro local, numa outra hora   :) 

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A dor ...



DOR

pequena ou grande
nossa, dos outros ou de todos
com maior ou menor intensidade
iguais ou diferentes motivos
a dor sempre existe

provocada por pequenos ou grandes nadas
surge quando menos se espera
e vai co-habitando connosco
num esgar de raiva e de atrofiamento
da mente, do coração e do corpo

se do corpo se trata
tudo se resolve num ápice
pois a causa é identificada
e a resolução é facilitada

se do coração é
explicá-lo é incompreensível
pois este nobre órgão é bandido e traiçoeiro
provocando esperanças, medos, inseguranças
num conflito aberto e desmesurado

e por fim temos a mente
essa coisa nebulosa
rigorosa como um dia de inverno
persiste indefinidamente
condicionando nossos pensares
e entorpecendo nossos gestos

qualquer um dirá que a dor é o que é
e que não deve ser valorizada
pois são estados passageiros
de todo o ser humano e do mundo em que vivemos

mas o tempo tudo cura
numa ou outra passagem de estado
e numa corrida pela vida

por isso, racionalmente eu também digo que sim
e diariamente procuro no meu sonhar
pequenos momentos inócuos
que tornem meu mundo mais leve
transformando-o num sorriso aberto
e que num renascer momentâneo
provoquem um anestesiar e aliviar
do meu corpo, do meu coração e da minha mente.

Maria

(provocada pela conversa com uma grande amiga no dia 28 de Junho e com ela partilhada)

terça-feira, 20 de setembro de 2011

pequenas coisas


começo a manhã com o telefone a tocar
vejo quem é e meu coração aperta-se
algo se passou penso eu 
adio o atender
não quero ouvir
tenho medo do que vou ouvir.
mas tem de ser e por isso atendo
uma voz do outro lado me diz
- bom dia. lembrei-me de ti, por isso te estou a ligar.

Maria














Coisas, Pequenas Coisas

Fazer das coisas fracas um poema.

Uma árvore está quieta,
murcha, desprezada.
Mas se o poeta a levanta pelos cabelos
e lhe sopra os dedos,
ela volta a empertigar-se, renovada.
E tu, que não sabias o segredo,
perdes a vaidade.
Fora de ti há o mundo
e nele há tudo
que em ti não cabe.

Homem, até o barro tem poesia!
Olha as coisas com humildade.

Fernando Namora, in "Mar de Sargaços"

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

domingo, 18 de setembro de 2011

à tua espera

 
Hoje fico à tua espera.
Pego em giz colorido
E desenho uma porta, a castanho.
Recorto uma chave de papel,
Pego nela e abro a porta.
Depois, com giz cinzento
Desenho uma estrada muito comprida
Ponho árvores verdinhas nas bermas,
Papoilas vermelhas nos campos
E um rebanho a pastar.
Com o giz azul faço um rio e peixes.
Em tons de musgo, pinto um velho barco
Parado na margem.
Ao longe, espalho pó roxo e rosa
Na curva das montanhas, perto do céu.
Por fim, faço um grande sol amarelo.
Não pinto nenhuma nuvem,
Nem branca nem cinzenta
Pode chover
E não quero que te molhes
Quando vieres.

Hoje fico à tua espera
Quero dar-te o meu desenho.


(Lídia Borges)

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

em busca de palavras


Ando em busca das palavras (Luis Represas)

Aprendi mais do que sei
Sei coisas que desconheço
Ando em busca das palavras
Que são lidas do avesso
Faz-me falta
O que já tenho
Dos sonhos que construí
Só as minhas mãos tão cheias
Desmentem
O que não fiz
Apenas faço um aceno
Um sinal
Dia após dia
Sentado à beira do mundo
Para dizer que estou aqui
Quem me achar que me acompanhe
Ao lugar de onde parti
A minha vida não para
E corre no meu caminho
Esta teima do destino
Em dar-me o que sempre quis
Faço mais do que digo
Digo mais do que penso
Tenho tudo e nada tenho
Que a tudo e todos pertenço
Olho os homens
Olho o mundo;
Vejo uma estrela cadente.

tonturas de dias

 
Tonturas 
   Vertigens
      Mau estar
         Cabeça rodopia 
            Corpo não aguenta
               Cai ao chão
                   Num rodopiar rápido
                      Como uma folha a cair da árvore
                                            assim me sinto ...

                                                        Maria 

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

grãos de areia


minúsculas partículas 
de um todo 
desconexos na sua beleza 
por entre os dedos fogem
e buscam a liberdade 
que apenas deles é.

não se deixem aprisionar.
não deixem de brilhar.
não deixem de ser diferentes.

sejam ... tudo o que são 
grãos de areia!!!!

maria




Uma coisa aprendi quando criança e brincava com areia:
Não dá pra segurar a areia por muito tempo, ela escorre entre os vãos dos dedos mas ainda assim, ficam umas pedrinhas na mão.
Na época, eu achava que eram preciosas.
E hoje, tenho certeza disso.
(Poetriz)

tempo certo

por mais voltas que se dê
seja qual for o assunto 
fácil ou complicado
de resolução ou não resolução
demore muito ou pouco 
para tudo existe um tempo.
certo ou errado não é isso que está em causa
apenas existe como se estivesse pré-definido
 ou pré-destinado mas incógnito ao meu conhecimento.
acreditar nisto deixa-me menos ansiosa 
menos temerária também 
mas mais expectante do que este tempo me destinou.

Maria




De uma coisa podemos ter certeza:
de nada adianta querer apressar as coisas;
tudo vem ao seu tempo,
dentro do prazo que lhe foi previsto.
Mas a natureza humana não é muito paciente.
Temos pressa em tudo e aí acontecem
os atropelos do destino,
aquela situação que você mesmo provoca,
por pura ansiedade de não aguardar o tempo certo. Mas alguém poderia dizer:
Qual é esse tempo certo?

Bom, basta observar os sinais.

Quando alguma coisa está para acontecer
ou chegar até sua vida,
pequenas manifestações do quotidiano
enviarão sinais indicando o caminho certo.
Pode ser a palavra de um amigo,
um texto lido, uma observação qualquer.
Mas, com certeza, o sincronismo se encarregará
de colocar você no lugar certo,
na hora certa, no momento certo,
diante da situação ou da pessoa certa.

Basta você acreditar que nada acontece por acaso. Talvez seja por isso que você esteja

agora lendo estas linhas.
Tente observar melhor o que está a sua volta.
Com certeza alguns desses sinais
já estão por perto e você nem os notou ainda.
Lembre-se, que o universo sempre
conspira a seu favor quando você possui um

objectivo claro e uma disponibilidade de crescimento.  

(Paulo Coelho)


terça-feira, 6 de setembro de 2011

utopia


das muitas músicas 
que hoje 
partilharam comigo 
uma em especial prendeu 
meus sentidos 

"UTOPIA" 
 
ouvia na altura
e marquei-a dizendo 
que mais tarde a iria utilizar 
o porquê não sabia 
e não o questionei 
apenas o disse

agora que a voltei a ouvir
sei porque o disse 
mas gosto desse saber 
porque também é meu

a música não era para mim 
era para quem ma ofereceu 
era para quem a irá ouvir 
noutro espaço, noutra hora
num outro momento 
talvez numa noite longa 
que pareça não ter fim

e ao ouvir esta música 
a memória  inicia a viagem 
e transporta-se para um dia 
um local, uma hora 
duas personagens 
envoltas num mistério 
e embriagadas de um quê mágico 
inexplicável

a música não era para mim 
mas torneia-a minha 
apoderei-me dela 
pois o nome me chamava 
para um sitio longínquo
onde tudo era sereno e perfeito
a terra dos meus sonhos 
aquele lugar mágico 
onde eu sou tudo 
e o tudo é aquilo que eu quero

são ilusões que aqui digo
por isso mesmo é utopia 
mas deixa ser 
não me importo que assim seja 
pois nesta também minha viagem 
o meu mundo é enorme
e as personagens são todas  aquelas 
que de mim fazem parte
e neste mundo eu deposito
todos os meus desejos terrenos 
que não posso realizar.

Maria 

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

tem manhãs ...


tem manhãs que o sol me diz:
- vai. parte. abraça o mundo.
e pergunta ainda:
- porque não o fazes?
não sei responder. calo-me.
fica o pensamento
de um dia isso acontecer
por agora guardo 
o desejo de partir ...

Maria



 
Com medo de voar (Classificados)

Às vezes, é tarde demais para seguir em frente
Às vezes, é cedo demais para voltar atrás
E o tempo também é inverso à nossa vontade
E às tantas o que nos atrai já não é verdade
Porque é fácil não estar no lugar marcado
E é tão fácil seguir o caminho errado


Às vezes eu não salto, com medo de voar
Às vezes eu não sonho, com medo de acordar.
Às vezes eu não canto, com medo de me ouvir
Às vezes eu entendo, que é apenas um momento
E o melhor há-de vir…



sábado, 3 de setembro de 2011

mundo ao contrário



um dia ...
um dia ...
um dia ...
um dia faço o pino
quero ver o mundo ao contrário
e saber se é o mesmo
ou se é diferente
depois ...
depois ...
depois ...
decido qual o que fica
se este, onde vivo e tudo acontece
se o outro, que promete terras de sonho e de vontades.

Maria