quinta-feira, 16 de agosto de 2012

regresso a este sitio

com um pouco de nostalgia
uma pitada de esperança
um repuxo de tristeza 
e um esboço de alegria
regresso a este espaço virtual
esquecido foi durante algum tempo

o que o motivou não sei
mas também não faço questão de o saber
apenas sei que aqui estou
uma outra vez
muitas outras mais ainda.

porque hoje? não sei a resposta
voltei. aqui estou mais uma vez ...

Maria

o ausente


 
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face

Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio
Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes

Sophia de Mello Breyner

quinta-feira, 21 de junho de 2012

tristeza permitida

Foto: Maria

"Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair pra compras e reuniões – se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem pra sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como?

Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer pra eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra.

Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.

A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido.

Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente – as razões têm essa mania de serem discretas.

“Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não me importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago da razão/ eu ando tão down...” Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.

Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos."

 (Marta Medeiros)

terça-feira, 19 de junho de 2012

por aí ...

 

perdida por aí ando
algures no tempo e no espaço
na procura do sentimento
que me descanse a alma.

perdida me sinto
na busca de um querer
que é meu mas que também 
preciso que seja o teu.

perdida estou
nas discussões intermináveis
que comigo faço
na procura de soluções.

perdida  me encontro
quando o silêncio opressivo
do vazio e do nada   
me oprime  e guilhotina
a voz do meu pensar.

perdida nos dias
conto o tempo que vai passando
como se fossem marcas
e rendo-me sempre ... ao dia
que tudo aconteceu.

perdida nas noites
o sono tarda a chegar
e quando acontece
traz os sonhos
que não me deixam dormir.

perdida algures
num eu que não sou eu
escondo as lágrimas e a tristeza
atrás de máscaras sucessivas
como se em cada uma
encontrasse forças para passar
a um outro nivel deste jogo
daquilo que se tornou
a minha vida.

perdida por aí procuro-te ...

Maria

segunda-feira, 7 de maio de 2012

cabra-cega











À volta de incerto fogo
Brincaram as minhas mãos.
... E foi a vida o seu jogo!


Julguei possuir estrelas
Só por vê-las.
Ai! Como estrelas andaram
Misteriosas e distantes
As almas que me encantaram
Por instantes!


Em ritmo discreto, brando,
Fui brincando, fui brincando
Com o amor, com a vaidade...


— E a que sentimentos vãos
Fiquei devendo talvez
A minha felicidade!




Pedro Homem de Mello

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Por quem foi que me trocaram

 

                                                                                  Foto: Maria

Por quem foi que me trocaram
Quando estava a olhar pra ti?
Pousa a tua mão na minha
E, sem me olhares, sorri.

Sorri do teu pensamento
Porque eu só quero pensar
Que é de mim que ele está feito
É que tens para mo dar.

Depois aperta-me a mão
E vira os olhos a mim...
Por que foi que me trocaram
Quando estás a olhar-me assim?
Fernando Pessoa

quarta-feira, 18 de abril de 2012

sexta-feira, 13 de abril de 2012

um banco de jardim ...

 



uma noite
algures no tempo 
um banco 
num jardim 

nunca o esquecerei 
marcado está 
tantos anos passados 

lá continua 
pronto a acolher-me 
e dizer-me 
que tudo começa 
onde menos se espera 
por tempo indeterminado.

Maria