sexta-feira, 28 de outubro de 2011

mariposa

Cada fallo,
cada imprecisión,
cada detalle,
todo bajo control.

Cada acierto,
cada aproximación,
cada escena,
bajo supervisión.
La casualidad se puso el disfraz de una mariposa
que al vuelo se entregó soltando su efecto
nos acarició.

No imaginas cómo sería yo si hubiera esperado 
un segundo más el amor.
Di mis gestos ni mi propia voz, ni mis besos serían 
hoy de los dos.
La casualidad se puso el disfraz de una mariposa 
que al vuelo se entregó soltando 
su efecto nos acarició.

Si quieres venir conmigo a buscar l
a fórmula exacta de la realidad 
intenta escribir a los demás, procura que nadie 
nos oiga marchar.

Cada pregunta de cada respuesta
de cada persona de cada planeta de cada reflejo 
de cada cometa de cada deseo de cada estrella.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

silêncio e tanta gente



Às vezes é no meio do silêncio
Que descubro o amor em teu olhar
É uma pedra
É um grito
Que nasce em qualquer lugar

Às vezes é no meio de tanta gente
Que descubro afinal aquilo que sou
Sou um grito
Ou sou uma pedra
De um altar aonde não estou

Às vezes sou o tempo que tarda em passar
E aquilo em que ninguém quer acreditar

Às vezes sou também
Um sim alegre
Ou um triste não
E troco a minha vida por um dia de ilusão
E troco a minha vida por um dia de ilusão

Às vezes é no meio do silêncio
Que descubro as palavras por dizer
É uma pedra
Ou é um grito
De um amor por acontecer

Às vezes é no meio de tanta gente
Que descubro afinal p'ra onde vou
E esta pedra
E este grito
São a história d'aquilo que sou

Às vezes sou o tempo que tarda em passar
E aquilo em que ninguém quer acreditar

Às vezes sou também
Um sim alegre
Ou um triste não
E troco a minha vida por um dia de ilusão
E troco a minha vida por um dia de ilusão

Às vezes sou o tempo que tarda em passar
E aquilo em que ninguém quer acreditar
Às vezes sou também
Um sim alegre
Ou um triste não

E troco a minha vida por um dia de ilusão
E troco a minha vida por um dia de ilusão

aprisionada




A pior das prisões é um coração fechado.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

sorri ..

Que triste ilusão esta
que para esconder
a tristeza da alma
se mascaram sorrisos
para o mundo …  

Maria


Sorri quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios

Sorri quando tudo terminar

Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador

Sorri quando o sol perder a luz

E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos

Sorri vai mentindo a sua dor

E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz
 
(Charles Chaplin)

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O mistério das cousas ...

vejo o astro rei lá fora 
seus raios e luz 
apesar de pálidos 
algum fulgor ainda têm 
e procuram abraçar 
tudo e todos. 

mas ...
a mim não chegam 
não me chamam 
não falam comigo 
nada me transmitem.
continuo a olhar
sei que está a brilhar 
mas eu assim não o vejo.

O que é não parece, e o que parece não é !!!!

Maria



"O mistério das cousas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais do que eles, que sei eu disso?
Sempre que olho para as cousas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.

Porque o único sentido oculto das cousas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as cousas sejam o que realmente parecem ser
E não haja nada que compreender.

Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos:
As cousas não têm significação: têm existência.
As cousas são o único sentido oculto das cousas."

Alberto Caeiro in O Guardador de Rebanhos

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

laço versus nó

Recordo as manhãs de outrora e a preparação para a escola. Sentado na sua cadeira, meu avô com o olhar acompanhava-me nestas andanças diárias e dava-me suas orientações…
Tudo corria bem até à altura de me calçar e apertar os sapatos em que a conversa era sempre a mesma:
- Maria não está bem. Isso é uma laçada, não é um nó.
- E qual é o problema?
- O problema é que daqui a um bocado, está tudo desfeito. Tens que fazer bem o laço e o nó tem que ficar bem apertado.
- Está bem avô eu faço.
E eu repetia os gestos conforme ele me dizia.
Maria



Meu Deus, como é engraçado
Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço, uma fita dando voltas
Enrosca-se, mas não se embola, vire, revira, circula e pronto:
Está dado o laço!
É assim que é o abraço
Coração com coração, tudo isso cercado de braço
É assim que é o laço
Um abraço no presente, no cabelo, no vestido, em qualquer coisa onde o faço
E quando puxo uma ponta, o que é que acontece?
Vai escorregando, devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço
Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido
E, na fita, que curioso, não faltou nenhum pedaço!
Ah, então é assim o amor, a amizade, tudo que é sentimento
Como um pedaço de fita
Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora
Deixando livre as duas bandas do laço
Por isso é que se diz 'laço afetivo', 'laço de amizade'
E quando alguém briga, então se diz: 'romperam-se os laços'
E saem as duas partes, iguais meus pedaços de fita
Sem perder nenhum pedaço
Então o amor e amizade são isso
Não prendem, não escravizam, não sufocam
Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço!

Mário Quintana

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

verdade



A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
 
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
 
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
 
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
(Carlos Drummond de Andrade)

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

nunca mais

 
Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.

E nunca mais darei ao tempo a minha vida.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.

Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser.
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência.
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

(Sophia de Mello Breyner)

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Segredo

 Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.
Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...

(Miguel Torga)



Súplica

no teu silêncio
mirrado e obscuro 
conjecturas explicações
bonitas e simpáticas
do tua atitude
e comportamento
que transmites em jeito telegráfico
aos outros.

não o faças, te peço
pois os outros
se até à pouco tempo
até poderiam ouvir
neste momento
insensíveis o estão.

fica com elas
e guarda-as
e repete-as
o numero de vezes que for necessário.

explica-te a ti próprio
e aprende
serão mais úteis
acredita-me.

Maria 



Súplica

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

(Miguel Torga)