quinta-feira, 30 de junho de 2011

o meu ponto final


sei como sou
por isso nunca o será 
e tenho consciência disso 

triste
magoada 
dormente 
fragilizada 
faço retiro momentâneo 
e em processo reconstrutivo
construo defesas para me proteger

tal qual uma Fénix 
morro e renasço das cinzas 
uma e outra vez ininterruptamente
mas com mais algum saber 
não deixo morrer a esperança

é assim que é 
é assim que tem de ser 
é assim que será 

Maria 


Pedro Vaz - O meu ponto final

o cofre do nosso ser



guardado algures
fechado com um cadeado
e a chave escondida na memória
um cofre contêm todo o ser
do que somos verdadeiramente
verdades, inverdades, mentiras, segredos, sonhos

pequeno no tamanho
mas grande no conteúdo
de quando em vez a chave é usada
e o cofre é aberto

e espreitamos
como se de outra vida se tratasse
saciando a curiosidade
e matando o desejo do ser apenas outro eu

e é este desejo que deixa
libertar o ser aprisionado
permitindo-lhe um esvoaçar curto
como se de um treino se tratasse

o primeiro abrir de asas
é inseguro e amedrontado
o segundo ainda que indeciso
demonstra já alguma confiança
o terceiro surge numa necessidade
e ganha contornos maiores
num crescendo de muitos outros
como um treino compulsivo e cadenciado

o que nos envolve e rodeia
as pessoas com quem convivemos
os encontros e desencontros da vida
ditam o tempo de abertura e o que se liberta
e tal qual o voo do pássaro
começamos por nos revelar aos poucos
num olhar, num gesto, numa palavra, num dizer

somos o que somos
e por instantes
dá-mo-nos a conhecer
numa partilha do nosso ser
num dar sem querer nada em troca
sem enganos e juízos de valores

e acreditamos
porque queremos que assim seja
e assim o desejamos
até que um dia
algo se passa sem saber qual a razão
e descobrimos que afinal
tudo não passava de um querer sem querer


a liberdade vivida deixa de fazer sentido
e o retrocesso é duro e doloroso
e aos poucos recolhemos um a um os pedaços libertados
e ainda outros entretanto apreendidos
e tudo é metido novamente no cofre
fechado com todo o cuidado
e prometendo nunca mais o voltar a abrir

sentires e resoluções vãs
pois num outro momento
numa causa inexplicável
numa esperança diferente
algo vai ser contrariado
e tudo irá repetir-se
pois o treino nunca terminará.

Maria

quarta-feira, 29 de junho de 2011

você não me ensinou a te esquecer

...Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando te encontrar
Vou me perdendo
Buscando em outros braços seus abraços ...


pedes-me um momento ...




porque me fazes o pedido 
se todos os momentos são teus?

não é apenas um 
mas são muitos de todos 
do querer sem querer 
do desejar sem desejar
do pertencer sem pertencer

e tu, dás-me esses momentos? 
dás. sei que sim.
ao teu jeito
ao teu querer
ao teu sabor 

de todas as formas 
de todos os feitios 
aproveito esses momentos
saboreando-os sempre 
como se de últimos fossem

o gosto fica guardado 
umas vezes doce como o mel
anseio mais de mais 
outras vezes porém é amargo
deixando um acre sentido 
e um não querer mais 

assim o sentes também
e o refúgio é o silêncio do nada dizer
que eu peço e que tu me dás 
que tu pedes e eu te dou

são sentires intensos 
que nos levam por viagens errantes 
perdidos no espaço e no tempo
sem porto ou destino final

tu pedes 
eu peço 
se tu te perdes
eu contigo me perco 
naqueles ... momentos!

Maria


viagens

“A viagem da descoberta consiste não em achar novas paisagens, mas em ver com novos olhos.” (Proust)